Do passado ao presente: a (in)eficácia da pena privativa de liberdade - Maria Palma Wolff

Maria Tavares, a assistente social que, em 1948, escreveu o livro Estudos e Sugestões sobre o Reajustamento de Delinquentes foi recebida nesta quinta-feira (4/4) na Escola Superior da Magistratura da AJURIS. Aos 101 anos, ela presenciou o reconhecimento de sua trajetória, que foi dedicada a ressocialização de apenados. Aplaudida de pé, Maria Tavares, que chegou a questionar porque estariam fazendo tudo aquilo, se emocionou ao receber flores. Ao lado dela estava a sua família, que inclui também os "anjos", assim chamados por ela, que abriga no Patronato Lima Drummond.
Ao abrir o Seminário Maria Tavares: uma mulher adiante do seu tempo, o presidente da AJURIS, Pio Giovani Dresch, destacou o empenho e os esforços de Dona Maria. "Esta homenagem talvez não seja só uma homenagem à Dona Maria, que deve ser lembrada por seu trabalho e sua dedicação, mas seria muito bom que representasse um marco para que, a partir de agora, passássemos a nos esforçar de modo mais organizado e com empenho maior na busca da ressocialização dos presos." Pio Dresch também destacou a importância do magistrado Sidinei Brzuzka, que apresentou à AJURIS a ideia de relançar o livro, uma proposta do neto de Dona Maria, Carlos Eduardo Schönerwald. A reedição, distribuída gratuitamente, foi publicada por iniciativa da AJURIS com o patrocínio da Sicredi.
O filho de Maria Tavares, Carlos Eduardo Aguirre da Silva, lembrou que, ainda jovem, acompanhou a luta da mãe no tempo do "Cadeião do Gasômetro" e as manifestações pela demolição daquele local, seguidas pela esperança de mudar para o Presídio Central. "Agora, passados 60 anos, a proposta do Governo é de implodir o Central. Passados 60 anos, o Estado não evoluiu. Nós todos como sociedade temos aqui um trabalho hercúleo, porque ninguém tem apoio para construir um presídio." Silva destacou que Maria Tavares só conseguiu colocar em prática o que escreveu na sua monografia de conclusão do Curso de Serviço Social da PUC, em 1948, porque sempre teve foco e determinação. "A vida dela é o preso. É acreditar no preso. É dar vida ao que ela escreveu no livro. E o que ela escreveu, ela fez. E a materialização disso é a Fundação Patronato Lima Drummond." Acolhido há três anos por Dona Maria e pelo Patronato, o ex-interno Otávio Marcio Goulart da Silva fez questão de dar um depoimento para relatar que, mesmo aos 101 anos, ela continua lúcida e capaz de dar conselhos e ensinamentos valiosos. "Só tenho a agradecer pelo tratamento e pelo respeito."
A trajetória de Maria Tavares também foi destacada na palestra Do passado ao presente: a (in)eficácia da pena privativa de liberdade, proferida pela assistente social Maria Palma Wolff, pós-doutora em Direitos Humanos pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). E em Uma mulher à frente do seu tempo, palestra do desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), Paulo Rangel. Maria Palma pontuou a importância do trabalho de Maria Tavares, que começou antes mesmo da Declaração Universal dos Direitos Humanos ser proferida e quando a Organização das Nações Unidas (ONU) nem havia sido criada. "Ainda hoje não conseguimos transformar esse conhecimento em propostas de intervenção para discutir a situação dos presídios", disse.
Paulo Rangel fez questão de se referir à Maria Tavares como doutora. "Doutora, sim, por ser, há mais de 50 anos a, maior conhecedora de ressocialização de presos do País." O desembargador ainda fez um apelo para que o livro não fique restrito ao Rio Grande do Sul. Ele afirmou que irá propor, no RJ, que se discuta a execução penal à luz do estudo de Maria Tavares.
A íntegra do livro Estudos e Sugestões sobre o Reajustamento de Delinquentes pode ser conferida AQUI.
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