Prosa com Vladimir Safatle
Vladimir Safatle nasceu em 1973, em Santiago do Chile. Formado em Filosofia pela USP e mestre em Filosofia pela mesma universidade. Professor titular do Departamento de Filosofia da USP,.
Entrevista realizada em 20/05/2022.
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00:01:27 O governo de Gabriel Boric, no Chile, talvez esteja enfrentando neste momento seu desafio mais sério, por conta dos conflitos que se intensificam no sul do país, entre a população mapuche, empresas que exploram recursos naturais da região e o próprio Estado chileno. Você esteve no Chile recentemente, e conversou com diversas lideranças da esquerda chilena, conversa que você relata em artigo publicado no site "A Terra é Redonda". Isso me fez lembrar um outro artigo, que você publicou na revista Lua Nova anos atrás, sobre a questão do reconhecimento, no qual defende a "hipótese de que a política des-identifica os sujeitos de suas diferenças culturais" e os "deslocaliza de suas nacionalidades e identidades geográficas". No entanto, o que está neste momento tensionando por dentro o governo chileno é justamente contrário, não lhe parece?
00:11:47 Pensando em uma possível correspondência entre o Brasil e o Chile, você poderia comentar, comparando, as motivações políticas e sociais que contribuíram para eclosão do estallido social no Chile em 2019 e a ausência do povo brasileiro nas ruas antes, durante e após a pandemia?
00:18:26 O medo é o principal afeto usado para realizar a gestão da massa falida que se tornou o social. Mas parece que desde 2013, as forças da reação passaram a se organizar de forma muito combativa, às vezes até mesmo insurrecional, pretendendo ir além do medo. Você escreveu um artigo, em 2020, sobre a morte da esquerda brasileira, incapaz de mobilização radical. No embate atual e vindouro, para além do resultado eleitoral, você vê a esquerda manejando de forma mais habilidosa essa economia dos afetos?
00:24:55 Na nota à reedição do seu livro, há uma renovada defesa da insurreição que vem, muitas vezes, acompanhada do sacrifício. O corpo imolado da primavera árabe é o acontecimento fundador do século XXI, ao invés do marco do 11 de setembro como signo do medo que sustenta uma forma de governo policialesco e repressivo. Você convida os que não se sentirem convencidos a fechar o livro. Como seria possível criar e sustentar um diálogo com quem pensa diferente de nós? E, mais importante, como engajar as pessoas na luta política?
00:34:25 O historiador francês Fernand Braudel disse certa vez que o capitalismo não é o lugar das trocas, e sim “a zona do antimercado onde rondam os grandes predadores e opera a lei da selva.” Na ciência política e na filosofia -por exemplo no Bernard Manin e no Roberto Espósito - fala-se o mesmo do regime representativo: ele foi inventado contra a democracia, não a seu favor. Assim como o capitalismo é o antimercado, a democracia representativa seria uma política que despolitiza, um regime do povo antipopular. São pseudopráticas (ou pseudoatividades) porque aniquilam o objeto que declaram praticar. Dito isso: existe alguma chance de construir democracia direta dentro do capitalismo?
01:02:27 No livro, você enfatiza em diversos momentos certa tradição insurrecional de levantes populares ocorridos principalmente nos últimos dez anos. Você chega a usar a expressão de Guattari e se refere a elas como revoluções moleculares - não-centralizadas e capazes de amalgamar pautas transversais. Crítica dessa debilidade, ultimamente temos presenciado um crescimento, talvez ainda incipiente, mas perceptível, da extrema-esquerda, principalmente mobilizando jovens por meio das redes sociais, em geral jovens insatisfeitos justamente com isso que você chamou de carência de imaginação política. Em que medida você diferencia seu projeto de revoluções moleculares dessa forma mais tradicional de organização e luta?
01:13:58 O que você acha dessa ideia, que está no Lenin, de que não é possível fazer uma revolução social sem que exista uma guerra civil total?
01:23:13 Acompanhei como ouvinte um dos seus cursos na USP em 2021, ou seja, de forma remota. Lembro-me de uma ocasião emocionante em que, a respeito do trabalho final, você flexibilizou as exigências das entregas de trabalho, com uma abordagem que parecia considerar as dificuldades materiais e psicológicas dos alunos. Quais são as novas pressões que um professor - e um professor de universidade pública - está exposto hoje? Pensando em termos históricos, existe, em curso, alguma mudança significativa na prática do ensino no Brasil?
01:33:23 Vladimir, logo após Bolsonaro ter vencido as eleições, você se movimentou para organizar atividades que envolviam artistas, localizando talvez um problema estético como parte do retrocesso da esquerda. Você poderia falar um pouco mais sobre essas atividades e sobre o lugar da arte e de um programa estético crítico na busca dessa imaginação política que você menciona?
Пікірлер: 25
Vladimir é muito necessário sempre. É uma pena que a esquerda que tem força não quer ouvi-lo. Ele vem nos alertando sobre a inércia da esquerda há muito tempo e também sobre a tragédia que foi essas conciliações e aí estamos na mesma.
Importante datar a entrevista
Excelente!!!
"a função da educação pública é criar um povo insubmisso e difícil de governar."
Não me canso de ouvir o Safla
Vladimir é sempre uma voz que precisa ser mais ouvida pela esquerda brasileira.
Fantástico. Precisamos estruturar as bases para refundar a etica civilizatoria
Safatle como sempre brilhante
@DestronePlante
Жыл бұрын
brilhante, segue errando todas as análises e afundando a esquerda kkk agradecemos
@rodrigoslmercadante
Жыл бұрын
@@DestronePlante mim
@rodrigoslmercadante
Жыл бұрын
Onmlmimi
Boa
A direita e as grandes corporações financeiras agradecem pela análise que os isenta de todo esse caos!
Eu voto no Vlad 💜
Legaliza 🌞🌿
Wladimir mostra os avessos e as omissões e furos da Esquerda aqui e alhures.
Poderiam dizer a data exata dessa entrevista, por gentileza?
@wallacevmasuko
2 жыл бұрын
20 de maio de 2022
1:23:05 "Bem-vindos ao departamento de Filosofia. Aqui vocês vão aprender a metafísica de Bergson e a correr da polícia."
até que enfim ouvi alguém falar do mal monumental que está sendo feito à arte contemporânea (e ) no Brasil. Se assistirem O Fim da beleza do Brasil Paralelo, comprova-se o que Safatle fala. Eles, a meu ver, querem restaurar o Renascimento (no Brasil), e querem trazer, além da Pintura desse período, e outros clássicos, a música erudita, pior exemplo, a Grande arquitetura, como se referem. O que na verdade, a meu ver, pretendem, é dizimar as favelas e seus moradores (cuja arquitetura "suja" o Brasil), os artistas contemporâneos (que destroem a Arte), naturalmente os indigenas, os intelectuais (que não cedem aos argumentos deles) etc. É uma eugenia o que pretendem por isso são nazifascistas. Percebi claramente isso conversando com um psicólogo bolsonarista mais a fundo. Vou deixar uns links pra quem se interessar: kzread.info/dash/bejne/dH2q0slmga6wj9I.html (O fim da beleza, são 3 episódios) kzread.info/dash/bejne/n3p31Ml8lrDag9Y.html (A ideia bolsonarista da renascença fake)
52:40 perfeitamente