O Uso de um Objeto - Parte II

Parte 1: Winnicott começa o artigo falando do tempo da interpretação. O analista deve aguardar o tempo oportuno para oferecer uma interpretação. A interpretação deve ser criada quando for encontrada. O risco da análise sem fim, na qual o analisando se relaciona com o analista como um objeto subjetivo, se adaptando a ele, sendo um falso self adaptativo. É preciso caminhar da relação de objeto para o uso do objeto. Esse é o modelo da análise proposto no início do artigo, pano de fundo prático para os avanços teóricos que serão expostos a seguir.
Parte 2: Winnicott parte do pressuposto de um self isolado, que aos poucos vai distinguindo a realidade. Relacionar-se com a realidade objetiva não é automático ou natural. Depende de um tipo de relação amorosa específica, na qual o objeto (objetivo) sobreviva à destruição do objeto (subjetivo). A construção da objetividade do objeto acontece ao mesmo tempo em que o próprio eu é construído e reconhecido. A mãe suficientemente boa é o modelo do cuidador que vai suportar o paradoxo vivenciado pelo bebê: eu crio o objeto que eu encontro. É esta a ilusão de onipotência. Ela deve ser desfeita lentamente para que eu possa vir a reconhecer a objetividade do objeto, isto é, sua alteridade mesma, independente do que eu possa vir a fantasiar sobre ele.
Parte 3: A distinção eu / não-eu aponta para a prioridade do ódio na relação com o objeto objetivo: primeiro é preciso me distinguir do objeto, reconhecê-lo como não-eu, retirá-lo da minha área de ilusão onipotente: o objeto não é aquilo que eu quero que ele seja. Só a partir disso, a partir do ódio que me faz distinguir o que eu sou e o que não é eu, é que posso ter a possibilidade de amar o objeto, de reconhecê-lo em sua alteridade mesma, em sua objetividade. Isso não impede que a destruição do objeto subjetivo continue permanentemente na fantasia inconsciente. Na fantasia, minha onipotência continua a fazer do objeto tudo o que quiser. É a discrepância entre o que acontece com o objeto na fantasia (objeto subjetivo) e o objeto "lá fora" (objeto objetivo) que demonstra que o objeto sobrevive, que ele permanece. Daí a importância do objeto não retaliar ou se vingar quando é destruído na fantasia: o cuidador deprimido é o paradigma dessa retaliação, isto é, é como se a destruição que dirijo ao objeto subjetivo destruísse mesmo o objeto objetivo. Isso faz com que seja impossível o desenvolvimento da capacidade de usar o objeto.
Parte 4: A falha na constituição da capacidade do uso do objeto faz com que o sadismo possa se estabelecer. A agressividade que deveria ter sido localizada na fantasia inconsciente permanece voltada para fora. O exemplo do sujeito com a obra de arte trazido por Winnicott mostra isso. Num exemplo clínico, Winnicott mostra como é preciso um cuidador estável para que o uso do objeto se constitua. Na ausência desse cuidador estável, o sujeito recua diante da criatividade. Ele inibe seus impulsos destrutivos e inibe todos os outros impulsos conjuntamente. Apenas se eu puder criar e destruir o objeto subjetivo muitas vezes, sem retaliação e percebendo, aos poucos, que o objeto objetivo sobrevive, estável e permanente, é que eu posso, adiante, me relacionar criativamente com o mundo, sem medo da retaliação.
REDES SOCIAIS:
Facebook: / fabiorrbelo
Instagram: / fabiobelo1976

Пікірлер: 4

  • @suzanaandres5079
    @suzanaandres50793 жыл бұрын

    muuuuuuuito bom! maneira de dizer e a calma "boa" para desenvolvermos junto o raciocínio!

  • @denisedossantos2775
    @denisedossantos27753 жыл бұрын

    Muito bom!!