Memorabilia para os 90 Anos da USP: Quem e o que é a USP? Memórias Iluministas, Sonhos e Profecias

Roda de Conversa com Eda Tassara (coordenadora do Grupo de Pesquisa Política Ambiental do IEA).
Em maio de 2024, a USP completou 90 anos de sua fundação.
Passados quarenta anos de seu cinquentenário, a que nos remeteria o filme “O Brasil, os índios e, finalmente, a USP” (*) feito em sua comemoração e sobre a história da Universidade. Descrito por Marcello G. Tassara, seu diretor, como um filme-espelho de outrora, dedicado que foi “a Paul Arbousse-Bastide que amou a USP por todos nós e aos que, porventura, virem sua própria imagem refletida nesse imenso espelho sem fronteiras”, a que hoje nos remeteria?
Se sua poética, em 1984, nos estertores dos vinte anos do governo ditatorial, emanava uma gramática política, hoje, nos leva a um passado em sépia, cuja existência e sentido buscamos concretizar em nossas reminiscências, na esperança de cumprir o vaticínio do diretor - o do espectador encontrar a própria imagem nele refletida. Mas qual imagem? a da própria USP que Arbousse-Bastide, como Professor membro da Missão Francesa que participou de sua fundação, tanto teria amado?
Falando sobre a USP, o filme-espelho, em sua totalidade narrativa, oferece outras chaves para resolução do enigma do encontro almejado. Trata-se do destino desta enorme, abrangente, complexa, profunda e metamorfoseante comunidade, cujas existência-sentido se corporificam em seu destino e se fundamentam em memórias, reminiscências de onde o respirar de uma ética transcendente leva à formação de uma consciência filosófica e científica. Reconhecer-se, porém, implica compreender o florescimento da auto-consciência.
O filme O Brasil, os índios e, finalmente, a USP, hoje, embora documentário em sua concepção, se apresenta como uma espécie de saga hibridizada pela ficção. Na cuidadosa seleção de testemunhos, sons e imagens nele orquestrados, não há mais como dissociar sua estrutura do “enredo”. Juntam-se todos colimando para uma questão que permanece aberta hoje, 2024, à espera de um destino profetizado: quem e o que é a USP?
Hoje não há mais como não inserir tal saga documental-ficcional no entendimento do tempo que, como disse Nietzche, é um eterno recomeço sem fim. Mas, também não há como não significá-lo, em uma sua leitura contemporânea, em uma sucessão de fins-mortes: a morte do cinema ótico e, também, como em um devaneio, o esvaziamento da crença humanista/iluminista da possibilidade de uma ciência ética.
Em conclusão, o documentário comemorativo do cinquentenário, a nosso ver, apresenta-se como um bem arqueológico cuja apreciação, talvez, venha a abrir caminhos para a procura exitosa de veredas conduzindo a USP a um destino ético, do ponto de vista científico e humano.

Пікірлер