Byung-Chul Han • A sociedade paliativa e a dor hoje [Introdução]
1. Quem é Byung-Chul Han?
Filósofo asiático, nascido na Coreia do Sul em 1959, que vive na Alemanha
Ensaísta sobre o mundo contemporâneo
2. Sociedade paliativa: a dor hoje
Ensaio produzido em 2020
Traduzido para o português em 2021
Livro de 115 páginas
3. Estrutura do livro
1. Algofobia [medo da dor]; 2. Coação à felicidade; 3. Sobrevivência; 4. Ausência de sentido da dor; 5. Astúcia da dor; 6. A dor como verdade; 7. Poética da dor; 8. Dialética da dor; 9. Ontologia da dor; 10. Ética da dor; 11. O último ser humano.
4. Dor como signo
“A nossa relação com a dor mostra em que sociedade vivemos. Dores são cifras. Elas contêm a chave para o entendimento de toda a sociedade. Assim, cada crítica da sociedade tem de levar a cabo uma hermenêutica da dor. Caso se deixe a dor apenas a cargo da medicina, deixamos escapar o seu caráter de signo.” (p. 9).
5. Sociedade paliativa
“A sociedade paliativa coincide com a sociedade do desempenho. A dor é vista como um sinal de fraqueza. Ela é algo que deve ser ocultado ou ser eliminado por meio da otimização. Ela não é compatível com o desempenho. A passividade do sofrer não tem lugar na sociedade ativa dominada pelo poder. Hoje se remove à dor qualquer possibilidade de expressão. Ela é, além disso, condenada a calar-se. A sociedade paliativa não permite avivar, verbalizar a dor em uma paixão.” (p. 14).
6. Dispositivo felicidade
“O dispositivo de felicidade neoliberal nos distrai do sistema de dominação existente ao nos obrigar apenas à introspecção da alma. Ele cuida para que cada um se ocupe apenas ainda consigo mesmo, com a sua própria psyché, em vez de interrogar criticamente as relações sociais.” (p. 27).
7. Coisificação da dor
“Segundo Freud, a dor é um sintoma que indica um bloqueio na história de uma pessoa. O paciente, por causa de seu bloqueio, não está em condições de avançar na história. Dores psicogênicas são expressão de palavras soterradas, reprimidas. A palavra se tornou coisal. A terapia consiste em libertar a pessoa desse bloqueio de falar, tornar a sua história novamente fluida.” (p. 45).
“Vivemos, hoje, em um tempo pós-narrativo. Não a narrativa, mas sim a contagem determina a nossa vida. A narrativa é a capacidade do espírito de superar a contingência do corpo. Por isso, não é absurda a ideia de Benjamin de que a narrativa poderia curar toda doença. Também xamãs expulsam doenças e dores com evocações mágicas que têm um caráter narrativo. O corpo ganha poder onde o espírito se retira.” (p. 48).
8. Dor como verdade
a) “Dor é vínculo. Quem recusa todo o estado doloroso é incapaz de vínculos. Vínculos intensivos que poderiam doer são, hoje, evitados. Tudo se desenrola em uma zona de conforto paliativa.” (p. 62-63).
b) “Dor é distinção. Ela articula a vida. Órgãos corporais se fazem conhecer primeiramente pelo seu próprio dialeto de dor. A dor marca os limites, destaca distinções. Sem a dor, tanto o corpo como o mundo afundam em uma in-diferença.” (p. 63).
c) “Dor é realidade. Ela tem o efeito de realidade. Percebemos primeiramente a realidade na resistência que dói. A anestesia permanente da sociedade paliativa desrrealiza o mundo. Também a digitalização reduz cada vez mais a resistência, leva ao desaparecimento do confronto contrariante, o contra, o contracorpo. O contínuo curtir leva a um embotamento, ao mar desconstrução da realidade. A digitalização é anestesiação.” (p. 64-65).
9. Dor como parteira
“Hoje, não estamos dispostos a nos expor à dor. A dor, entretanto, é uma parteira do novo, uma parteira do inteiramente outro. A negatividade da dor interrompe o igual. Na sociedade paliativa como inferno igual, nenhuma fala da dor, nenhuma poética da dor é possível. Ela permite apenas a prosa do bem-estar, a saber a escrita à luz do Sol.” (p. 73).
10. Fim da humanidade
“A vida sem dor e com felicidade permanente não será mais uma vida humana. A vida que persegue expulsa a sua dor suspende a si mesma. Morte e dor são inseparáveis. Na dor, antecipa-se a morte. Quem deseja eliminar toda a dor também terá que acabar com a morte. Mas a vida sem morte e dor não é uma vida humana, mas sim uma morta-viva. O ser humano se desfaz, a fim de sobreviver. Ele alcançará, possivelmente, a imortalidade, mas ao custo de sua vida.” (p. 115).
VEJA TAMBÉM MEU BLOG: alfredoliva.com
QUEM FOI MICHEL FOUCAULT? UMA BREVE BIOGRAFIA: alfredoliva.com/quem-foi-michel-foucault-uma-breve-biografia/
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Lembrando daqueles versos: "Tudo é dor. E toda dor vem do desejo de não sentirmos dor."
Lindoooo!! Melhor comentário sobre o livro do Byung Chul Han !! Parabens. Estava com uma dor e ela passou depois de ouvi-lo. Obrigado ❤
@alfredo_oliva
21 күн бұрын
Bom saber. Abraço.
Extraordinário, magistral!👏👏👏👏
A sabedoria é bela!👏👏
Excelente, estamos passando de viver plenamente para a mera expansão dos dias de sobrevivência.
Obrigado pela explanação.
Encontrar um professor que une os dois principais filósofos dos meus estudos é fantástico! Obrigado professor !
Uma excelente apresentação do livro! Muito grata!
Amei muito esse canal!👏👏
Parece com o livro da Nação Dopamina
Incrível! Parabéns! 👏🏻
Os analgésicos não podem nos cegar da dor, mas servir, feito um óculos de soldador permitindo que olhemos para o brilho da solda, como um anteparo para que possamos continuar contemplando e entendendo a dor que sentimos sem sermos demasiadamente ofuscados por sua intensidade.
Obrigada por este vídeo, é de grande ajuda nos estudos sobre o tema. Conceitos importantíssimos para nossa reflexão e aprendizado.
@alfredo_oliva
9 ай бұрын
Valeu!
Um professor me emprestou este livro a pouco tempo e disse para eu ler com calma e ir pensando sobre cada capítulo, ir escrevendo as citações para que fosse mais simples meu entendimento ( 15 anos mas gosto muito de filosofia e sociologia) . Então cá estou me aprofundando nos conhecimentos do livro a sociedade paliativa e a dor hoje, percebo que de fato as dores são cifras e podemos através delas encontrar soluções para os problemas sociais que vivemos hoje .
@alfredo_oliva
2 жыл бұрын
Você tem razão. Aliás, você está trilhando um bom caminho com suas leituras. Continue assim. Com seus 15 anos já está está muito além de pessoas com muita idade. Abraço.
@joaopaulonk9925
2 жыл бұрын
@@alfredo_oliva Muito obrigado, suas palavras me dão mais vontade de continuar seguindo um caminho do qual posso me orgulhar .
uma gran alegria escutar seu comentario. obrigado (com o tempo vc sera conhecido)
Em vez de buscar as causas, mascaramos o sintoma....
@alfredo_oliva
Жыл бұрын
Exato.
Professor, adorei sua explicação.
@alfredo_oliva
Жыл бұрын
Que bom!
Descobri seu canal ao terminar a leitura do livro e procurei no KZread algumas considerações, como as que vc fez. Já me inscrevi e vou segui-lo. E, somos xarás, rss. Bom dia.
Que bom conhecer seu canal caro professor! Muito obrigada pela generosidade
Maravilhoso 😍... Amei... Gratidão.
Alfredo, o último amigo vivo do meu avô era o Alfredo, morreu esse mês. Quando fiquei sabendo já tinha sido sepultado. Gostei da sua biblioteca. E sobre o Byun Chul Han lembrei dessa dor.
@alfredo_oliva
Жыл бұрын
Interessante... Meu avô se chamava Alfredo também. Meus sentimentos. Abraço.
Ualll!!! Perfeita a exposição oral!!! Parabéns!!!
Incrível!!! Obrigada pelo conteúdo, Professor! 🙏
Ótimo vídeo professor. Adorei! Gratidão.
@alfredo_oliva
3 жыл бұрын
Obrigado. Estou grato também.
Parabéns pela aula e muito obrigado, Alfredo Oliva.
Impressionada com sua didática, simplicidade e capacidade de explicar um autor, na minha modesta opinião, difícil de entender. Agradeço a sua generosidade. Já me inscrevi no seu canal e compartilhei muito o vídeo.
@alfredo_oliva
Жыл бұрын
Obrigado. Você é uma pessoa generosa.
Livros encantadores é uma poção de encantamento à Vida! Grata!
Estou descobrindo esse filósofo recentemente. Li a Sociedade do Cansaço e agora estou lendo a Sociedade Paliativa. Seu vídeo é perfeito, grata!
@alfredo_oliva
2 жыл бұрын
Valeu!
@celinacb
2 жыл бұрын
@@alfredo_oliva ganhou uma seguidora 😉
@alfredo_oliva
2 жыл бұрын
Isso é muito bom!
Ótimo comentário bem bom nível
Fantástico! 🎉
Sempre houve fuga da dor, sempre houve uso de drogas, alcool, comilancas compulsivas. Dor e do sermos humanos. A vida nao e para principiantes, o mundo nao e " parque de diversoes". Ngm e bomzinho. Sempre a dor foi condenada. Dizem q e fraqueza, como diz o livro. Nao e mole, nao.
Excelente
Parabéns pelo conteúdo muito bem colocado!!!!
Excelentes questões abordadas pelo Sr.
Seu trabalho é fenomenal, professor. Obrigado por compartilhar o seu tempo e esforço conosco. Trabalhando em uma grande empresa de computação me deparei com uma realidade muito próxima daquela descrita pelo autor em A Sociedade do Cansaço. Essa leitura me ajudou muito a tomar uma série de decisões profissionais importantes que mudaram positivamente minha realidade. Isso me despertou um grande interesse pelas obras do autor, mas vindo de uma formação acadêmica nas ciências da natureza, carecia de uma base filosófica mais sólida para absorver com maior profundidade o conteúdo de seus livros. Intuitivamente comecei por Foucault. Foi assim que descobri o seu canal. Tenho seguido todas as suas dicas para lê-lo, começando pelos livros de seus cursos… Nesse vídeo você cita bastante Freud. Seria ele um segundo autor necessário para uma melhor compreensão de Byung-Chul? Há outros que você indicaria com um bom pré-requisito? Gostaria de adicionar que existe uma forma polidamente convidativa de alegria na sua expressão ao discutir certas linhas de raciocínio. Já afirmei que o conteúdo dos vídeos é extraordinário, mas essa sensação nítida em seu olhar de um instante de alegria infindável nessa lúcida investigação da verdade sobre a natureza é o que me faz voltar aqui semanalmente! Um grande abraço!
@alfredo_oliva
2 жыл бұрын
Puxa, Luan, muito obrigado por suas palavras. Muita gentileza sua. Abraço.
@alfredo_oliva
2 жыл бұрын
Acho que a lista de autores que podemos estudar para compreender melhor Byung-Chul Han é grande: Heidegger, Hegel, Foucault, Benjamin, Agamben, Freud etc.
Não conhecia esse Filósofo, teólogo, etc. Comecei a pesquisar depois de ouvir o senhor e o Prof Jonathan Menezes citando ele em suas pregações. Estou gostando muito, se possível for, posta mais obras ou pensamentos dele. Abraços!
@alfredo_oliva
2 жыл бұрын
O meu canal tem uma playlist sobre Byung-Chul Han. Nela você encontrará 8 vídeos sobre ele. Dá uma olhadinha. Abraço.
Sensacional!...
@alfredo_oliva
3 жыл бұрын
Valeu, Mano.
Sensacional seu vídeo, cara! Obrigado!
@alfredo_oliva
3 жыл бұрын
Grato.
Excelente conteúdo!!!
@alfredo_oliva
3 жыл бұрын
Grato.
Para analisar a dor temos que coisifica-la filosoficamente?
Gostei muito do seu resumo. Fiquei com a sua ideia dobre o livro. Falta ler você livro. Fiquei com vontade de ler. Gratida
@anamariamatosaraujo7484
2 жыл бұрын
Falta eu mesma ler o livro
Professor o senhor já leu ou fez uma resenha sobre a obra "capitalismo da vigilância" ? Seria interessante ter sua análise, manda um abraço pra São- Luis MA ♥️ parabéns pelo conteúdo.
@alfredo_oliva
3 жыл бұрын
Não li ainda. Parece bastante interessante. Você se refere ao livro de Shoshana Zuboff, A era do capitalismo de vigilância?
Nietzsche
Concordo, mas levar o homem a sentir culpa não é uma coisa nova. Transferir toda a responsabilidade da felicidade para o próprio sujeito, para o governo, para Deus, para o pai ou para a mãe -para a genética…? O Deus da religião alimenta-se da dor do ser humano.