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Faz já tempo que eu pensava que nunca mais podia ser feliz. E dia após dia eu era só mais um bocadinho do que humanamente é possível ser. tinha me transformado em tudo que não era, pensava ser tudo o que era impossível, e de repente, de um momento para outro, passei de um homem triste e vazio, a ter a inteligência que sempre tive, e a ser muito mais feliz, do que a própria felicidade.
Pensava em poesia sem nunca ter sido poeta. Escrevia textos em guardanapos de papel, e adorava depois os ler, era engraçado o tempo que eu perdia a ler os meus pensamentos.
Era tudo o que eu via e ouvia, tudo eu escrevia, e depois ficava a ler, uma, duas, tres vezes, até me cansar. Um dia casei com a mulher que nunca se cansava de me chamar poeta, ela dizia que lia tudo que eu escrevia, e que tudo era muito bonito. Tudo o que eu escrevia era amor, e eu lá me fui convencendo que era verdade afinal vivia um poeta dentro de mim, e não sabia, e foi assim, que esse meu amor, tornou-se na minha mulher.
E finalmente, consegui divorciar-me de mim, e deixar de ser tão triste como antes era, e aborrecida-mente meu, e um dia troquei os aborrecidos textos que eu escrevia, os mesmos que ela chamava de amor e poesia por ela. Ela ficou minha. Eu fiquei dela. É ou não é lindo, mas muito estranho esta história mas, bem pensado talvez tenha sido Deus Nosso Senhor, ambos pensamos o mesmo que nos livrámos de boa e ficámos a ganhar?
A minha mulher agora é mais minha do que eu alguma vez fui meu, e eu hoje continuo escrevendo e enquanto ela não diz que não gosta e continua a chamar de poemas eu não paro de escrever quero ver sempre ela feliz porque antes eu nunca podia ter sido mais para mim, felizmente. Por ter tudo agora para lhe dar. Que alívio. Nunca mais me quero ver na vida como era.
Joaquim Rodrigues