Live #1 do curso "Teorias éticas e animais não humanos"

Ойын-сауық

Пікірлер: 2

  • @larazanshin
    @larazanshin12 күн бұрын

    Em relação à "óbvia" consideração moral que devemos aos seres sencientes não biológicos, poderiam indicar fontes para a suposição: "talvez a senciência apareça toda vez que qualquer estrutura física estiver organizada de modo a fornecer as condições para o seu aparecimento" (do site Ética Animal)? Ter um sistema nervoso com órgão sistematizador é condição necessária para a senciência; mas é suficiente? Que fatos ou raciocínios permitem concluir que sim?

  • @lucianoshred

    @lucianoshred

    11 күн бұрын

    Oi, Lara! (1) A afirmação de que obviamente devemos considerá-los deve ser entendida da seguinte maneira: "se vierem a existir seres sencientes não biológicos, obviamente devemos consideração moral a eles, na mesma medida que devemos a qualquer outro ser senciente". É nesse sentido que seria óbvio, não no sentido de que esses seres necessariamente chegarão a existir. Agora, acho que sua pergunta é mais no sentido de perguntar se realmente é possível que tais seres venham a surgir, certo? Comento sobre isso abaixo. (2) Coloco a seguir algumas referências para a sua pergunta "poderiam indicar fontes para a suposição: 'talvez a senciência apareça toda vez que qualquer estrutura física estiver organizada de modo a fornecer as condições para o seu aparecimento'. Aqui há um artigo mais detalhado: plato.stanford.edu/entries/functionalism/ E aqui estão alguns artigos mais introdutórios: animalcharityevaluators.org/blog/why-digital-sentience-is-relevant-to-animal-activists/ reducing-suffering.org/machine-sentience-and-robot-rights/ O experimento de pensamento clássico para sugerir essa possibilidade é este: Imaginemos que passamos por uma cirurgia que envolve trocar alguns de nossos neurônios orgânicos por neurônios de algum material não orgânico. Se, após a cirurgia, os novos neurônios continuarem a desempenhar as mesmas funções, e as experiências associadas a eles continuarem presentes, isso seria uma razão para se pensar que a senciência é possível em seres não orgânicos. Por exemplo, se continuássemos periodicamente a substituir o restante dos nossos neurônios atuais por neurônios não orgânicos até que todos os neurônios fossem substituídos e as experiências não fossem desaparecendo, isso seria um forte indicador de que a senciência não orgânica é possível. (3) Sobre a questão: "ter um sistema nervoso com órgão sistematizador é condição necessária para a senciência; mas é suficiente? Que fatos ou raciocínios permitem concluir que sim?" Na verdade, tem uma condição adicional que é haver uma quantidade mínima de neurônios e de interações entre eles. Entretanto, não se sabe atualmente qual é essa quantidade mínima (nem de neurônios, nem de interações). Por exemplo, alguns autores sugerem que os 302 neurônios de um verme nematodo já seria suficiente. Sobre isso, você pode ler aqui: www.animal-ethics.org/senciencia-em-invertebrados-uma-revisao-da-literatura-neurocientifica/ Agora, fora essa condição adicional (quantidade de neurônios e interações entre eles) parece que a presença de um sistema nervoso com órgão centralizador é suficiente para a senciência porque no nosso próprio caso humano, todas as explicações para a nossa senciência remetem unicamente a esses fatores. Essa é a visão mais aceita mas, é claro, tem autores que discordam de que isso seja suficiente. Por exemplo, o Peter Carruthers defende, como o Descartes, que, para haver senciência, é preciso saber uma linguagem (como o português, o inglês etc.) e, por isso, ele nega que os animais não humanos sejam sencientes. A posição do Carruthers você pode ver, por exemplo, aqui: Carruthers, P. (1989) “Brute experience”, Journal of Philosophy, 86, pp. 258-269. Entretanto, essa visão dele quase ninguém aceita, entre outras coisas, porque implica que também as crianças não são sencientes até aprenderem uma linguagem. Outra visão que nega que possuir um sistema nervoso seja suficiente para a senciência é o materialismo eliminativista. Basicamente, o que essa teoria diz é que não existe nenhum ser senciente (nem eu, nem você, nem ninguém). Segundo essa teoria, estados mentais (como emoções, sensações, desejos, intenções etc.) não existem: são uma ilusão criada pela linguagem. Obviamente, podemos perguntar: "uma ilusão de quem, se essa teoria diz que não existe ninguém, e sim, só corpos vazios se movendo?". Essa visão, por motivos óbvios, é menos aceita ainda. Você pode ler sobre essa teoria aqui: plato.stanford.edu/entries/materialism-eliminative/ Além da presença de um sistema nervoso com órgão centralizador, há indicadores adicionais de senciência, como a presença de substâncias que atuam como analgésicos, a presença de nociceptores, indicadores comportamentais, e indicadores de que a consciência representaria uma vantagem evolutiva no caso de certos organismos. Entretanto, todos esses critérios são adicionais (isto é, um ser pode ser senciente sem cumpri-los, desde que cumpra o critério da presença de um sistema nervoso com órgão centralizador, mas não parece possível que seja senciente se cumprir os critérios adicionais sem cumprir o critério principal). Sobre isso, você pode ler aqui um artigo introdutório: senciencia.org/2023/09/27/quais-seres-sao-sencientes/ E aqui há uma seção com vários artigos mais detalhados: www.animal-ethics.org/senciencia-secao/ Um abraço!

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