Ícone da moda, e precursora de uma época de ‘top models’ no Brasil, que aconteceu na década de 90, a então modelo goiana Claudia Liz se destacou entre 1985 e 1997 nas passarelas e editoriais por seu estilo performático, e com muita atitude. Inevitável: virou atriz de novelas na TV, e estrela premiada em festival internacional de cinema. Tempos idos, a menina que em nenhum momento largou a alma de artista visual, os lápis, pincéis e as tintas, desenvolveu seus dons autodidatas, e hoje é figura de proa no setor - em exposições engajadas, com sua pintura mais que autoral (como na mostra Feminino Plural, na Av. Paulista); e na mídia, com suas ilustrações. Para quem não sabe: o prestigiado e tradicional jornal impresso (e on-line) Folha de São Paulo publica há nove anos, todo mês, uma ilustração colorida inédita assinada por Claudia, a qual acompanha, na página 3, os textos dos poderosos editoriais na seção Tendências e Debates. “É um desafio”, diz ela, que lê e relê o que lhe chega até encontrar, no mesmo dia, a forma de ilustrar - o que, além do exercício à base de adrenalina, no mínimo a faz entender melhor a política.
Ao nos receber em seu coloridíssimo apartamento no coração dia Jardins, em São Paulo, palco de muito carisma pessoal, elegância natural e simpatia cheia de gentilezas, além do talento, a artista de raiz relembra a infância na roça, em São Luiz de Montes Belos, caderno de desenho embaixo do braço, assim como os croquis feitos nos hotéis onde se hospedava enquanto modelo, como em Tóquio - ou casas onde morava e também mantinha ateliê, tipo Paris, Madri ou Nova York. Alguns bons cursos teóricos e práticos aprimoraram esta sua vocação ao longo da vida, mas foi no seu mundo particular da arte - descoberto como “uma epifania” a partir da visão de simples reproduções de grandes pintores em um porta-copos com imagem de obra de Toulouse-Lautrec, ou um cartão postal com o quarto de Van Gogh - em paralelo à moda, que Claudia passou a desenvolver ainda mais apaixonadamente seu desenho e pintura.
Pedimos que posasse para nós, e até mesmo que desfilasse, e ela atravessou o corredor com segurança até chegar à sala para nos contar ainda mais das voltas que sua vida deu. Por exemplo, o primeiro casamento com o rei da noite paulistana Angelo Leuzzi aos meros 16 anos, o filho que chegou aos seus 23 (hoje Lucca Salvatore é um famoso DJ, orgulho da mãe), e assim por diante até falar dos projetos em andamento, como o da nova casa, muito em breve. Dessa vez, será todo ele um ateliê bem grande, com muita luz natural e apenas mais um quarto, pois sua vida não imita e, sim, É a própria arte. E para quem acha que já sabe tudo sobre Claudia, tem mais: sua obra é uma referência na educação, pois é estudada em livros no ensino médio como arte contemporânea.