Festival dos Botos no Çairé
E quando se fala festa, não passa despercebido o homem encantador que aparece durante os festejos na comunidade, né? Sinto cheiro de encantarias!
A gênese do Çairé é de princípios hegemônica e simbolicamente orientados por uma perspectiva sacra, no entanto, transcende a secular tradição para a entrada de elementos profanos, atrativos para o público, como a Pipira Brasileira e o Cruzador Tupi, mas foi com a inserção do cordão dos botos, com a disputa entre as agremiações folclóricas dos botos Tucuxi e Cor de Rosa, que se firmou o formato folclórico que atualmente é conhecido e marcado pela expectativa do público, durante os cinco dias de festividades do Çairé.
Inspirados na lenda, genuinamente amazônica, em que o boto, em noites de lua cheia se transforma em homem e sai em busca de um amor, tão viva no imaginário do caboclo, a disputa dos Botos Tucuxi e Cor de Rosa sintetizou mais uma característica de sincretismo ao reunir lendas, mitos e magia na elaboração de suas espetaculares apresentações, cuja expressividade cênica, oral, coreográfica, musical e dramática que, inerentemente folclóricas, credencia-se à estética de grandes espetáculos contemporâneos de massa, sem perder as características do folclore regional, pela existência originalmente motivadora da manifestação.
Ressaltados em plasticidades exuberantes, enredos emocionantes e belas alegorias, a disputa entre os dois botos representa o lado profano da festa do Çairé. Os botos foram inseridos em 1997 na festa, mas foi apenas em 1999 que a disputa entre as agremiações começou, e até hoje são um grande chamariz de público para o festival.
Em 2023 o Boto Tucuxi conquistou o bicampeonato como tema Yandé, o Çairé. E o boto Cor de Rosa agraciou o público com o tema A Grande Festa, em homenagem aos 50 anos de retomada do Çairé, após um hiato de 30 anos.
Texto : Laysa Mathias
Narração: Laysa Mathias
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Imagens: Afonso Carvalho